quarta-feira, 13 de março de 2013

Diabetes mellitus em animais de estimação



Após a digestão, os açucares (glicose) contidos nos alimentos são absorvidos pela corrente sanguínea e levados até as células, onde servem como principal fonte de energia. Neste processo a atuação de um hormônio se torna fundamental para o bom funcionamento deste mecanismo: a insulina.

A insulina é produzida no pâncreas, cai na corrente sanguínea e ao chegas nas células onde se liga a receptores específicos. Esta ligação promove uma reação química na célula, a qual culmina com a ativação de um grupo de proteínas denominadas transportadoras de glicose (GLUT), que carreiam a glicose do sangue para o interior das células, onde finalmente os açucares são utilizados na produção de energia.
Porém, em determinadas circunstâncias, o pâncreas não produz insulina em quantidade suficiente, em outras ocorrem problemas não na produção de insulina, mas na sua ligação com receptores nas paredes das células, que não funcionam de forma adequada, assim os açucares se acumulam no sangue. A esta doença chamamos DIABETES.
Muitas pessoas estranham quando um veterinário fala “seu cão (ou gato) está com diabetes!”. Quase sempre o proprietário (prefiro cuidador ou responsável) do animal faz uma cara de espanto e retruca: “mas cachorro (ou gato) tem diabetes!?!?”. A resposta é, evidentemente: SIM!

Estimativas apontam que cerca de 1 em cada 400 cães ou gatos apresentem esta doença. Os sintomas geralmente apresentados envolvem sede excessiva (ingestão de grandes quantidades de água), grande volume urinário (em alguns casos pode ocorrer incontinência), perda de peso, aumento do apetite, cansaço, fraqueza, perda de visão dentre outros.
Diversos fatores podem levar à ocorrência de diabetes nos nossos animais de estimação, tais como: processos infecciosos e inflamatórios, em especial no pâncreas, além de alterações hormonais, uso de determinados medicamentos, se situam como principais causas de diabetes.

A diabetes é uma doença que apresenta alguns fatores de risco, ligados principalmente à condição corporal do animal – obesidade (para saber mais clique aqui), idade, afetando animais geralmente com animais entre 7 e 9 anos (ATENÇÂO: a diabetes pode ocorrer em animais de qualquer idade!) além de predileções raciais (Samoiedo, Schnauzer e Poodle miniatura e Bichon Frisé).

O diagnóstico é realizado por meio de exames laboratoriais (glicemia, sumário de urina etc), associado a uma criteriosa avaliação clínica.

O tratamento, praticamente na totalidade dos cães e na grande maioria dos gatos, exige a aplicação, pelo resto da vida do animal, de insulina. Anti-hiperglicemiantes de uso oral podem ser prescritos. Outras medidas também podem, e se fazem, necessárias, tais como controle do peso, melhoria da qualidade alimentar, realização de atividades físicas etc. O animal diabético exige acompanhamento e cuidado contínuo, compromisso e dedicação de seus cuidadores e um criterioso acompanhamento veterinário, porém, com o tratamento, seu animal, respondendo bem à medicação, pode ter uma vida plena , longa e feliz.

Juracir Bezerra Pinho
Médico Veterinário

domingo, 20 de janeiro de 2013

Tromboembolismo Arterial Felino

Tudo começa assim: seu gatinho está relativamente bem, pode até ter manifestado uma falta de apetite  ou talvez, uma leve apatia, mas, em termos gerais, ele parece  bem, então, de forma repentina, ele fica paralisado dos membros posteriores e apresenta dor intensa. Bem, é desta forma que geralmente o tromboembolismo arterial se apresenta. Para muitos proprietários parece que o animal foi atropelado, ou sofreu um trauma. Esta é uma condição difícil, sendo um desafio para muitos veterinários. Mas, vamos conhecer um pouco mais sobre esta doença!

Doença de início geralmente repentino, o tromboembolismo é uma emergência clínica e está, na grande maioria dos casos, relacionado a uma cardiomiopatia (doença na qual os músculos do coração ficam anormalmente rígidos ou grossos). Animais com cardiomiopatia sofrem alterações cardiológicas que acabam levando a uma redução no fluxo sanguíneo dentro do coração, o que causa um "estagnação" do sangue nas câmaras cardíacas ocasionando a formação de coágulos (geralmente no lado esquerdo do coração). Estes coágulos, ou um fragmento destes, se soltam, caem na corrente sanguínea e percorrem o corpo até chegar a  um vaso de menor calibre. Lá, o trombo se fixa e bloqueia a passagem de sangue. Desta forma, todos os tecidos a partir deste ponto ficam com seu suprimento sanguíneo prejudicado. No caso dos gatos, o local onde isto ocorre com maior frequência é na trifurcação distal da artéria aorta, que é a porção em que se formam as artérias ilíacas, responsáveis pela irrigação dos membros posteriores. Eventualmente, porém de forma rara, os êmbolos podem bloquear outros vasos sanguíneos no cérebro, no trato gastrointestinal, nos pulmões, fígado ou nos rins.

Com a obstrução vascular e perda da irrigação da região posterior são manifestados os sintomas mais comumente observados:

- Dor;
- Palidez;
- Redução da sensibilidade;
- Paralisia;
- Déficit de pulso dos membros posteriores;
- Extremidades frias.

O tromboembolismo aórtico é mais comum em gatos machos, por estes serem mais predispostos à cardiomiopatia, e dentre as raças a abissínia se mostra mais suscetível, porém, animais de qualquer raça e sexo podem apresentar a doença. No tocante à idade, gatos de meia idade são mais predispostos, porém esta doença pode ocorrer em animais de qualquer idade. 

O tratamento de animais com tromboembolismo se baseia essencialmente no controle da dor, no manejo das alterações cardíacas associadas, uso de medicamentos para promover a dissolução do trombo e evitar que novos trombos de formem (anticoagulantes), estabilização fisiológica do paciente (hidratação venosa, uso de vasodilatadores e diuréticos, dentre outras medidas). 

O prognóstico é geralmente reservado, uma vez que apenas 35% dos animais que sofrem esta doença sobrevivem, e dentre estes há um severo risco da ocorrência de novos episódios.

A prevenção se dá essencialmente pelo diagnóstico precoce das doenças cardiológicas, monitorização e uso de anticoagulantes em animais portadores deste tipo de alteração.


Juracir Bezerra Pinho
Médico Veterinário

Referências: 

_________: Tromboembolismo arterial nos gatos. Disponível em: http://www.instinto.pt/site/artigo.php?AGtTZAtela9Xr1tela9Xr1=ADNTM1RlCGQtela9Xr1

_________: Feline aortic thromboembolism. Disponível em: http://www.emergencyclinic.ca/feline-aortic-thromboembolism-2/

It, V., Mucha, C.J., Belerenian, G., Artese, J.M. Tromboembolismo Arterial Felino. Disponível em:  http://www.aamefe.org/trombo_art_fel.htm

Philip R Fox : Feline Thromboembolism - New Clinical Persopectives. disponível em: http://www.ivis.org/proceedings/wsava/2007/pdf/52_20070401192654_abs.pdf




sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cinomose Canina



Tenho atendido um crescente número de casos de cinomose nos últimos dias, por isto, decidi retomar as postagens no nosso blog abordando esta importante doença que acomete nossos animais.

A Cinomose é uma doença infecciosa causada por um vírus, da família paramixovirus, que acomete  diversos animais domésticos e selvagens (cães domésticos e selvagens, ferrets, raposas, lobos,lontra, ariranha, gambás, guaxinins dentre outros), porem, nesta postagem, voltaremos nossa atenção para os nosso fieis companheiros: os cães.

No caso da cinomose canina, diversos tecidos podem ser infectados pelo vírus, e portanto, a sintomatologia é bastante variada e se modifica ao longo do desenvolvimento da doença.

O vírus é transmitido através do ar através da tosse por animais infectados e também por meio de secreções corporais, tais como urina. Cães de qualquer idade podem ser afetados, no entanto, a maioria são filhotes com menos de 6 meses de idade.

Corrimento nasal

Após a infecção, o animal passa por um período de incubação (em que não manifesta sintomas) que varia, em média, de 3 a 14 dias. Após esta fase, inicia-se um quadro sintomático inespecífico, neste,  os cães podem apresentar sintomas gerais de febre, perda de apetite, discreto corrimento nasal e ocular. Após 2 ou 3 dias, o animal passa então a manifestar os sintomas mais intensos da doença, que , pode se manifestar par variados sintomas, os quais podem incluir:
- Febre, o que pode aumentar e diminuir;
- Corrimento nasal;
- Secreção ocular, geralmente purulenta;
- Depressão;
- Tosse;
- Espirros;
- Vômitos;
- Diarréia;
- Falta de apetite;
- Apatia;
- Fraqueza
- Dificuldade em respirar;
- Hiperqueratose (endurecimento) dos coxins (a almofada das patas)  e do focinho;
- Espasmos musculares 
- Desorientação;
- Fraqueza muscular;
- Anormais movimentos mandibulares;
- Atrofia da retina;
- Hipoplasia do esmalte dentário;
- Encefalite;
- Pneumonia (intersticial);
- Convulsões;
- Paralisia.

Conforme a predominancia dos sintomas a literatura cita as formas digestivas (diarréia e vômito), pulmonares (pneumonia , tosse, corrimento nasal e ocular) e/ou neurológicas (desorientação, tremores, tiques). Estas formas podem surgir isoladamente ou em conjunto.

Nos cães domésticos a cinomose apresenta uma alta taxa de letalidade (50 a 75%), e mesmo aqueles animais que se recuperam podem apresentar sequelas neurológicas e/ou visuais permanentes.

O tratamento de animais com cinomose se baseia essencialmente na prevenção às chamadas infecções oportunistas, hidratação, anticonvulsivantes e pelo uso de soro específico (imunoglobulinas que ajudam a combater o vírus)

A forma mais eficiente de se prevenir a cinomose é por meio da vacinação, porém, dentre os casos que, como citei inicialmente, tenho atendido, muitos haviam sido vacinados, porém este processo foi realizado com vacinas ditas "comerciais" (de qualidade e preço inferiores), e sem o devido acompanhamento veterinário , o que pode proporcionar sérias falhas no processo de imunização (para saber mais sobre vacinas clique aqui). Após se recuperar de infecção natural, o animal passa a apresentar imunidade de longa duração a qual se preserva desde que o animal não seja exposto a grande quantidade de fonte de infecção ou não tenha seu sistema imunológico comprometido.



Juracir Bezerra Pinho
Médico Veterinário


Referências:

PACHALY, José R. Doenças infecciosas de cães e gatos
FOSTER & SMITH Distempter in pupies and dogs. Acesso: http://www.1800petmeds.com/education/canine-distemper-symptoms-dogs-49.htm
RAMSEY, Ian K - Manual de doenças infecciosas em cães e gatos